Dra. Gilda Figueiredo Ferraz de Andrade recebe o Primeiro Prêmio “Dra. Ritsuko Tomioka” da Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo

Confira as palavras que foram ditas no discurso durante a entrega do Primeiro Prêmio “Dra. Ritsuko Tomioka”

Premio - AATSP - Discurso (1)

– Introdução e cumprimentos:

Exma. Sra. Prof. Dra Ivette Senise Ferreira, Vice Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, à qual tenho a honra de pertencer e de integrar o E. Conselho em meu 4º mandato, minha professora de graduacao, de pós graduação, minha madrinha de casamento e, o mais importante, minha querida amiga de todas as horas, certas e incertas.

Tomo a liberdade de saudar, em sua pessoa, os mais de 300 mil advogados paulistas, e muito especialmente as mulheres advogadas e as advogadas trabalhistas, verdadeiras heroínas no exercício desta nossa nobre profissão.
Exma. Sra. Presidente do E. TRT da 2ª Região, a maior e mais importante Corte Trabalhista do Brasil, Desembargadora Dra. Maria Doralice Novaes, amiga das mais preciosas, das horas tristes e felizes, nesta sessão merecidamente homenageada.

Em nome de V. Exa. tenho o prazer de abraçar todos os membros do Judiciário Trabalhista aqui presentes e ausentes , nesta sessão solene.

Exmo. Sr. Presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo, Dr. Ricardo Dagre Schmid,Exmo. Prof. Dr. Antonio Fabricio Goncalves – Presidente da ABRAT (Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas), meu particular e queridíssimo amigo, também Diretor – Tesoureiro da OAB/MG -, em nome de quem, com a devida vênia, cumprimento todos os nobres conselheiros e conselheiras, muito particularmente os conselheiros paulistas que me concederam a honra de merecer esta premiação tão valiosa, qual seja, o primeiro prêmio “Advogada Dra. Ritsuko Tomioka “.

– Início do discurso:

Meus colegas advogados e advogadas aqui presentes, meus amigos e amigas, Srs. Servidores desta nossa justiça laboral:

Não é tarefa fácil falar e discorrer sobre a I. Advogada Dra. Ritsuko Tomioka, nome do prêmio que hoje tenho a honra de receber.

Melhor será reproduzir, ainda que em apertada síntese, o que ela sobre si escreveu em seu curriculum vitae endereçado a d. ESA – Escola Superior de Advocacia -, na qual era responsável pelas cadeiras de direito do trabalho e direito previdenciário:

Abro aspas:
“Nasci no Japão.

Minha família veio para o Brasil em novembro de 1936, portanto, estamos no país há aproximadamente 75 anos. Posteriormente minha família foi para Bastos, interior do Estado de São Paulo, onde adquiriu um sítio, dedicando-se à plantação de algodão, criação de aves e de bicho da seda, em um período muito difícil, considerando-se a guerra, que somente terminou em 1945.

Para estudar no curso primário, na escola estadual de Bastos, as crianças que, como eu, morávamos em sítios, tínhamos de caminhar cerca de 6 km de ida e mais 6 km de volta, portanto, 12 km por dia, mas mesmo assim, íamos com muita alegria para estudar.

Mais tarde, minha família resolveu se instalar na Capital, pois meus pais não mais tinham condições de trabalho na lavoura.

Aqui terminei o famoso ginásio, porém, em curso especial, conhecido na época como madureza, finalizei meus estudos secundários em dez meses, cursei contabilidade em nível técnico para poder trabalhar, ajudar meus pais e continuar estudando.

O estudo universitário, eu o fiz em 5 gloriosos anos na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco da USP, terminando-o em 1962.

A partir de 1963 prestei serviços no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, interrompidos após a revolução de 1964.

Em 1968, decidi me dedicar especialmente à área trabalhista, sempre em meu escritório, como profissional liberal, mas retornei ao departamento jurídico do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo em junho de 1970, onde estou até a presente data.

Face à especialidade na área trabalhista, fui convidada a coordenar na ESA um curso de direito do trabalho, previdenciário e de cálculos trabalhistas, antes estávamos na Avenida Ipiranga, agora estamos no largo da pólvora, muito melhor acomodados.

Este é meu cv, à disposição da nobre classe a qual pertenço.

Ritsuko Tomioka

Minhas senhoras e meus senhores,

Muita coisa não é necessário acrescentar ao CV desta destemida, combativa, aguerrida, fantástica e doce colega Ritsuko Tomioka, minha saudosa e querida amiga Rita, como eu a chamava carinhosamente.

Lembro-me de quando dela recebi, em dezembro de 1994, em meu primeiro mandato como conselheira da OAB/SP, um telegrama que dizia mais ou menos o seguinte:

“Gilda, aleluia, aleluia, até que enfim se lembraram de colocar uma mulher militante no Conselho. Mas não pense que sua vida será boa não, eu serei a primeira a te atormentar muito quando as coisas não funcionarem… bjs parabéns, Ritsuko”

Esta era a Ritsuko Tomioka,uma advogada modelo, um norte, uma verdadeira bússola para todos os colegas e, inclusive, aos magistrados que dela precisavam; Nós duas costumávamos nos encontrar aqui neste prédio: ela, com seu indefectível carrinho sempre repleto de processos, e eu, exausta após alguma instrução seria, encostadas em uma das inúmeras rampas deste lindo prédio, oportunidade em que literalmente passávamos a limpo nosso quotidiano profissional, para discutir problemas, desde os mais comezinhos aos mais sérios de nossa Classe, ocasião em que até falávamos sobre nossa paixão comum : o glorioso clube tricolor, cujo brasão ela ostentava com orgulho ímpar em esmaltes em suas unhas sempre perfeitas.

Na data de hoje, na qual mulheres são homenageadas, não posso deixar de registrar, Sr. Presidente, por oportuno, que este prédio onde hoje trabalhamos foi herculeamente terminado com esforços pessoais também por uma mulher, a então primeira mulher a presidir o E. Tribunal Regional da 2ª Região, Dra. Maria Aparecida Pellegrina, hoje, para orgulho nosso, batonniers paulistas, também advogada trabalhista militante.

Tampouco poderia deixar de apontar que, nesta atual gestão, nosso E. Regional tem toda sua direção feminina, sob a batuta equilibrada, discreta, elegante, firme e, sobretudo, sempre terna da nossa querida e ilustre homenageada, Desembargadora Presidente Dra. Maria Doralice Novaes, Magistrada com “M” maiúsculo, que conheci ainda como Presidente de Junta, da então 6ª Junta de Conciliação e Julgamento, com sede na Avenida Ipiranga!

Ou seja, literalmente somos governados por mulheres, a começar pela nossa Presidente, Dra. Dilma Roussef, 1ª Mulher a presidir o Brasil, que data maxima et maxima venia, em minha opinião, poderia valorizar mais nosso honrado Poder Judiciário com atitudes mais pontuais e certeiras, tais como prestigiar sua independência, e aqui eu também me refiro aos subsídios de nossos juízes, que não podem continuar como estão, às escuras, sem definição!

Um Judiciário independente e com vencimentos dignos, Sr. Presidente, é sempre garantia de seriedade e de democracia!

Mas, voltando às mulheres, nem sempre houve este pioneirismo no país e muito menos em São Paulo:

Minha saudosa tia, Profa. Dra. Esther de Figueiredo Ferraz, primeira mulher e até hoje, a única a ocupar no país o cargo de Ministra de Estado da Pasta de Educação e Cultura em 1982, precisou, nos idos de 1947, impetrar mandado de segurança para poder ter deferida sua inscrição em concurso público de livre docência nas arcadas, ante às ridículas expressões do então indeferimento:

“Fossem quais fossem as notas da candidata, tratava-se de uma mulher”.

Como verificamos, a vida profissional das mulheres nunca foi fácil e até hoje não o é.

Porém, muita coisa mudou. Estamos hoje em uma mesa de honra integradas por mulheres pioneiras e igualmente vencedoras, mas ainda há muito a ser feito!

Sr. Presidente, a sessão de hoje é solene e é uma data festiva, promovida pela Justiça do Trabalho e realizada sob os auspícios da prestigiada Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo, e eu me prometi não adentrar em temas mais íngremes e candentes, embora pontuais, tais como problemas do Judiciário em geral e da advocacia trabalhista em particular, e muito menos, Sra. Presidente Dra. Doralice, no preocupante PJE e à cisão de jurisdição da cidade de São Paulo na nova proposta de descentralização.

Pelo menos nesta data, V. Exa. está livre de ouvir, smj. e modéstia à parte, as prudentes e necessárias argumentações da advocacia.

Isto porque nós formamos, ao lado do I. Parquet, um tripé indispensável ao Estado Democrático.

Aliás, Sra. Desembargadora Presidente, o fato de circunstancialmente divergirmos em algum ponto não equivale dizer estarmos em posição contrária, porquanto somos e queremos continuar nossa parceria de mútuo respeito e de recíproca admiração!

Estamos comemorando na data de hoje homenagens generosas, em que magistrados, advogados e servidores são honrosamente agraciados e lembrados, e aqui também me refiro à justa alegria de presenciar nossa querida servidora Dulcinha receber seu merecido prêmio, homenagem esta sem duvida estendida a todos nossos servidores, e, neste particular, Sr. Presidente, nossa justiça especializada tem um material humano invejável, comparável a estrelas de primeira grandeza.

Falava eu em Festa, e festa era o tipo de ocasião imperdível para nossa saudosa Dra. Ritsuko Tomioka!
E foi justamente em uma festa, sua última festa, que Deus houve por bem chamá-la, certamente para instaurar algum dissídio divino ou então para conciliar alguma categoria angelical mais progressista ou ainda, para por fim a algum movimento paredista lá no céu, onde sei que está.

Dra. Ritsuko Tomioka fechou seus lindos olhos amendoados em meados do 1º semestre do ano passado em uma festa, no jantar de despedida do querido magistrado Desembargador Carlos Francisco Berardo.

Sem querer, ela acabou com a festa.

Eu, a caminho da então comemoração, quando soube de seu falecimento, dei meia volta e voltei para casa, a festa havia acabado para mim e para todo mundo, nunca mais veríamos, nem teríamos nossa amiga Rita!

Mas, hoje, ela certamente aqui está entre nós, analisando cada detalhe, cada palavra, cada expressão dos presentes, para quem sabe, num sonho bom, possa comigo, pelo menos, se encontrar e comentar tudo, como sempre fazia.

Já terminando, Sr. Presidente, farei aqui uma particular confissão:

Meu agradecimento é especial e muito emocionado à Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo e à Justiça do Trabalho, porque quando se aproxima o dia 8 de março, dia da mulher, sempre sou lembrada por várias entidades para receber, mas in memoriam, premiações, seja em nome de minha Tia Esther, seja em nome de minha mãe, também da área jurídica pioneira, membro que foi do I. Parquet estadual, assim como meu pai, Javert de Andrade.

Hoje não: aqui estou para receber um prêmio a mim dedicado.

Estou muito emocionada, comovida, e gratíssima à Associação pela generosa lembrança de meu nome, indicação feita por E. Conselheiros e advogados militantes, meus colegas de profissão, eles sim, os verdadeiros juízes de nossa vida profissional.

Agradeço também à colaboração e a dedicação de minhas colegas de escritório, dra. Paula Cristina Ozório, dra. Gesiane Camilo Pedroso e dra. Mayara Vittorio, cuja cumplicidade profissional tem me permitido liberdade e dedicação à nobre classe dos advogados, em ausências prolongadas, e a compromissos na defesa dos interesses de nossa classe.

E, para que esta festividade estivesse completa, faltam-me hoje duas pessoas, as duas Heloisas da minha vida:
A primeira delas, minha única filha, já quase colega, cuja ausência circunstancial se deve a uma viagem para representar a Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em uma competição sobre Comércio exterior na Costa Rica;

A segunda: a de outra Heloisa, minha saudosíssima mãe, cuja falta é sentida até hoje, a cada segundo de minha vida, e se hoje aqui estivesse, estou certa, estaria ela sentadinha logo na 1ª fileira, muito orgulhosa de sua única filha!
Não foram poucos os que tentaram explicar a expressão “saudades”, seja em prosa, seja em verso, eu mesma já me aventurei nestas plagas, mas, ninguém ainda melhor a explicou do que este poeta anônimo:
“Saudade é a ausência da presença e a presença da ausência”.

Dra. Ritsuko Tomioka, minha querida amiga Rita, você nos faz muita falta e temos enormes e sentidas saudades de você.

Esteja certa, Rita, de que tudo farei para honrar o 1º Prêmio que leva merecidamente seu nome, sempre com sua ética, seu denodo, sua lhaneza, combatividade e seu senso de justiça!

À memoria de minha querida mãe, Heloisa de Figueiredo Ferraz, tomo a liberdade, srs. Presentes, de dedicar esta premiação que hoje recebo, e à minha Heloísa dedico – , com as palavras sempre muito sentidas mas, também sempre tão verdadeiras de sua única filha: – Mãe, que falta você me faz!

Ritsuko Tomioka, onde quer que você esteja, zele sempre por nós.

Muito obrigada a todos,

Gilda Figueiredo Ferraz de Andrade