Palavra do Presidente: Discurso de homenagem à Dra. Maria da Penha Santos Lopes Guimarães

Dra. Maria da Penha a nossa Luta contra o racismo, ainda não foi vencida.

A pseudo democracia racial brasileira.

Infelizmente a questão racial não é discutida da forma que merece, em virtude da pseudo democracia racial brasileira, que formou um país branco e masculino, originado da negação absoluta da existência do racismo.

A negação e até a ridicularização do democrático sistema de cotas, denota a miopia no entendimento da importância de haver chances absolutamente iguais para todos e um absurdo enaltecimento de uma mentirosa meritocracia na sociedade brasileira.

A tragédia da exclusão racial vivenciada no dia a dia nutre a nossa violência cotidiana, à medida que não se dá aos negros e seus descendentes a oportunidade de uma vida digna. Os dados de pobreza e violência ligados aos afro-descendentes são alarmantes e chocam até aqueles com um mínimo de sensibilidade.

Agora pergunto: que democracia é essa neste mar de exclusão social a que são submetidos os negros brasileiros? Preconceito racial? É dito que só existe na cabeça de quem é vítima, mas o maior preconceito é o econômico e social. Jovens negros atletas de futebol, músicos e artistas ricos e bem sucedidos se integram com muita facilidade no ambientes dos mais favorecidos. Aí pelo visto, a cor pouco importa.

O Brasil, à medida que se distancia do debate racial, repetindo à exaustão que esse é um país sem racismo, mantem um “status quo” extremamente falso e que nos indigna.

A quem interessa a fuga desse debate?

Ao pais que no seu passado vergonhoso, mais do que ter escravizado o povo da África e ter se beneficiado da criação de um sistema econômico de exploração, em nenhum momento na sua história buscou qualquer compensação material aos africanos e seus descendentes, para cá trazidos à força e com extrema violência. Famílias foram totalmente destruídas.

O preconceito racial no Brasil se sofisticou. E é tão dissimulado e violento que até no futebol, alegria do nosso povo, há casos horrorosos como as agressões sofridas pelo goleiro Aranha e o jogador Arouca por torcedores racistas enfurecidos, para falar somente de alguns casos. Por que não falar do sistema legal, onde houve um passo atrás com a mudança da tipificação do crime de racismo, que antigamente era inafiançável e imprescritível e recentemente sendo desclassificado, passando agora a ser de injuria racial – um crime comum.

Todos nós sabemos que o racismo se dá em todos os momentos da vida de uma pessoa não branca que vive o binômio do preconceito e segregação. Uma imitação de um macaco ou os dedos apontados para pele do braço, indicando a cor diferente, ofendem uma criança, um jovem ou adulto negro. Como combater tamanha agressão?

A questão está colocada e a mentira também e isso não pode perdurar.

Precisamos urgentemente combater o racismo de forma contundente, duradoura, inteligente e verdadeira.

Devemos nos proteger da maldade de nós mesmos, permitindo oportunidades iguais aos negros e seus descendentes num regime claro de cotas raciais, com um grande investimento para atacar o desequilíbrio econômico, social, educacional e político. Assumir que o Brasil é um país racista e tirar a nossa mascara, já é um bom começo e é a melhor forma para educar as novas gerações contra qualquer tipo de preconceito.

Com a verdade colocada às claras poderemos ter um Brasil democrático, solidário, justo e de total inclusão racial e social. Enfim a construção de uma paz social.

Um país com oportunidades iguais para todos, sem qualquer discriminação, é isso que se espera de nós mesmos e de nossa sociedade.

Obrigado.

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Lívio Enescu
Presidente
Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo – Sempre Vigilante na Defesa dos Advogados Trabalhistas de São Paulo.

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